Breguet
"Breguet: Dois séculos de arte relojoeira
A marca Breguet é um dos mais importantes nomes da história da relojoaria. Foi responsável por grandes desenvolvimentos técnicos, como o sistema pare-chute e o turbilhão. Entre os seus ilustres clientes, figuravam Marie Antoinette e Napoleão.
A.-L. Breguet – Génio e revolucionário da arte relojoeira
O fundador da marca, o relojoeiro suíço Abraham Louis Breguet, foi um verdadeiro génio da arte relojoeira. Em 1775, estabeleceu-se no seu atelier de Paris, onde nasceram invenções como o primeiro relógio de bolso com movimento automático ou o famoso Breguet Nº160, conhecido como o Marie Antoinette, que era, e ainda o é hoje, o relógio mais complicado do mundo. O relógio foi encomendado a Breguet por um admirador secreto da Rainha e demorou, nada menos, nada mais, do que 44 anos para ficar concluído. Infelizmente, a malograda Rainha nunca chegou a receber o dito presente, dado que foi levada à guilhotina em 1793. A rainha francesa não foi a única a apaixonar-se pelos relógios de Breguet. O mestre tinha outros clientes proeminentes, como o Czar Alexandre I, Napoleão Bonaparte e Winston Churchill, para quem concebeu peças excecionais. A manufatura esteve nas mãos da família até 1870, ano em que foi vendida a um dos seus relojoeiros, o britânico Edward Brown. Após ter mudado de mãos algumas vezes, atualmente, a Breguet faz parte do Grupo Swatch.
Sob a alçada da empresa suíça de Biel, a Breguet conhece um novo período de florescimento. Hoje, os relojoeiros da Breguet concebem peças extraordinárias com dois turbilhões ou séries nostálgicas, que evocam os primeiros relógios criados pelo fundador. A mais célebre coleção atual é, sem dúvida, a Classique, inspirada nos valores tradicionais da marca. A coleção Reine de Naples apela a apreciadoras de relógios femininos clássicos. Trata-se de um modelo comemorativo do relógio de pulso encomendado em 1810 a Breguet para Carolina Murat, irmã de Napoleão Bonaparte. As peças incluídas na série Marine reinterpretam os elementos clássicos da manufatura de uma forma moderna e desportiva. Pela sua robustez, ao primeiro olhar, assemelham-se a um relógio de mergulho. Observando com mais atenção, porém, descortinam-se materiais nobres como a platina, o ouro branco ou o ouro rosé com 18 quilates. No interior, albergam um mecanismo de excelência e diversas complicações.
Abraham-Louis Breguet revolucionou o mundo da relojoaria com as suas criações inéditas. Invenções como o turbilhão são, ainda hoje, sinónimo de excelência relojoeira, servindo o propósito de melhorar a precisão cronométrica de um relógio mecânico. A invenção decorreu do facto de, nos séculos XVIII e XIX, a maior parte dos cavalheiros guardar o seu relógio de bolso no interior do bolso do colete, na posição vertical. Ora, a força da gravidade exercida sobre o relógio causava consideráveis imprecisões no mecanismo. A Breguet surgiu, então, a ideia de construir um mecanismo em forma de gaiola, que incluía no seu interior os órgãos de escape e o balanço/espiral. Esta gaiola girava em torno de si própria, uma vez por minuto. Desta forma, as frações de tempo perdidas eram recuperadas, anulando as imprecisões. Mesmo nos dias de hoje, os relógios equipados com um turbilhão continuam a apresentar os melhores resultados em testes cronométricos.
Outra das grandes invenções de Breguet foi a espiral que ainda hoje carrega o seu nome. Ao contrário da espiral comum, perfeitamente plana, a última volta desta possui uma curva terminal que possibilita o movimento concêntrico, ou isócrono, da mesma, o que aumenta a precisão cronométrica do relógio. A manufatura suíça de L’Abbaye continua a integrar, ainda hoje, estas invenções nos seus calibres.
Igualmente inovadora foi a invenção do sistema de proteção de choque pare-chute, uma vez que esteve na base dos modernos sistemas antichoque. Dado que os elementos do balanço, como o pivô do eixo do balanço ou o cilindro de rubi, eram peças muito delicadas que se partiriam em caso de queda, Breguet lembrou-se de construir um dispositivo que as protegesse dos choques. Este consistia em pivôs cónicos fixados com pequenos discos da mesma forma, montados numa placa de mola de aço. Breguet apresentou os primeiros protótipos do sistema pare-chute (isto é, paraquedas) em 1790, perante uma audiência que incluía o então ministro dos negócios estrangeiros francês, Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord. Na demonstração, o inventor francês deixou cair um relógio de bolso ao chão. Quando o apanhou, este continuava a funcionar, deixando todos os presentes boquiabertos.
Silício e o espírito vanguardista da Breguet
A marca não perdeu o jeito de deixar o público de boca aberta com o seu espírito inovador. Todos os anos surpreende os apreciadores da alta-relojoaria com relógios que incorporam princípios mecânicos revolucionários. Um exemplo é a utilização do silício na fabricação dos seus componentes. Este material, utilizado na fabricação dos transístores de chips de computador, é um semimetal que, pelas suas propriedades físicas, promete resolver alguns dos maiores desafios da relojoaria mecânica. A sua grande vantagem é o facto de, ao contrário do metal, ser amagnético. Além disso, é um material com uma densidade 3 vezes menor do que a do aço ou a do cobre, o que permite o fabrico de componentes extremamente leves e com menor inércia, sem perderem características como a robustez e a resistência à abrasão e à corrosão. Os benefícios do silício manifestam-se sobretudo no funcionamento do conjunto balanço, espiral e escape. A Breguet lançou em estreia mundial os modelos Classique 5177, 5197 e 5837, com os primeiros componentes fabricados em silício.
Os cronógrafos flyback da linha Type XXII também vêm equipados com uma roda de escape, uma âncora e uma espiral em silício. Este modelo é descendente dos lendários cronógrafos Type XX concebidos na década de 50 para a Força Aérea Francesa. A maior proeza desta peça reside no facto de ser o primeiro cronógrafo a ser alimentado por um mecanismo de alta frequência que bate a 72.000 alternâncias por hora (10Hz). Regra geral, na maior parte dos cronógrafos mecânicos, o balanço bate a uma frequência máxima de 28.000 A/H, correspondente a uma frequência de 4 Hz. Neste caso, os mestres relojoeiros da Breguet conseguiram aumentar a frequência em cerca de 150 %, o que se traduz numa maior precisão cronométrica e consequente melhoria das funções cronográficas, permitindo ao ponteiro dos segundos do cronógrafo efetuar uma rotação a uma velocidade estonteante de 30 segundos e medir frações tão pequenas quanto 1/20 de segundo. A introdução do silício, um material completamente imune à influência de campos magnéticos, abre portas a novas possibilidades. Os avanços da Breguet no campo do magnetismo levaram à criação de um solução técnica inédita na relojoaria, que consiste na colocação de micro-ímans nos extremos do eixo do balanço. Além de melhorar o pivotamento, a rotação e a estabilidade do eixo do balanço, esta solução isenta alguns componentes do calibre de lubrificação.
Estética de assinatura
Embora fosse um verdadeiro mágico da técnica, os elementos de design que compõem um Breguet estabeleceram um estilo inconfundível que, ainda hoje, é sinónimo de luxo e de bom gosto. Os mostradores expressam a personalidade de um relógio. São a tela dos artesões e mestres relojoeiros. Sobre esta "tela", trabalham os ponteiros "à pomme", com a forma de uma "maçã oca" (atualmente designados simplesmente de ponteiros Breguet), marcando o ritmo das horas com uma elegância aristocrática. Os numerais romanos suaves, concebidos por Breguet decoram mostradores esmaltados ou meticulosamente decorados com guiloché. Esta técnica artesanal é, aliás, uma especialidade da Breguet. O génio da relojoaria introduziu os mostradores com decoração guiloché em prata ou em ouro em 1786. Esta arte decorativa consiste na gravação à mão de diferentes padrões de linhas geométricas, que resulta em padrões como raios de sol, ondas ou ainda motivos axadrezados, que conferem um caráter único às criações da manufatura.
Outra característica inimitável de um relógio Breguet é a sua assinatura secreta. Por causa do enorme sucesso alcançado pelo relojoeiro, cedo as suas peças começaram a ser alvo de falsificações. A fim de impedir este fenómeno, Breguet introduz, em 1795, uma assinatura secreta gravada sobre o mostrador, que é praticamente invisível a olho nu, a não ser que a luz incida sobre a mesma de um ângulo plano. A assinatura secreta de Breguet adorna até aos dias de hoje a maioria dos mostradores Breguet, constituindo uma prova da sua autenticidade. Por tradição da manufatura, cada peça é numerada individualmente, qual obra de arte, tal como o relógio Marie Antoinette, que foi roubado em 1983 do Museu de Jerusalém, que possui o número 160. Entretanto, o relógio de bolso foi restituído em 2007 ao museu pela viúva do ladrão. Foi pena não ter sido uns anos antes, dado que teria poupado os construtores da penosa tarefa de reconstituição com base em desenhos e arquivos, que ficou terminada em 2003.